Uma mancha vermelha que dá comichão pode ser eczema! Muitas vezes falamos sobre eczema sem realmente saber o que é. Esta pequena palavra engloba vários tipos diferentes, que não têm as mesmas causas nem exigem os mesmos cuidados.
Pele seca a atópica
Como identificar e distinguir os tipos de eczema
Tempo de leitura : 9 min
Seja qual for o tipo de eczema, o prurido será sempre um sintoma!
Para os dermatologistas, os três principais tipos de eczema são, na verdade, chamados de dermatite:
Dermatite atópica (ou eczema atópico)
Dermatite de contacto irritativa (eczema de contacto irritativo)
Dermatite de contacto alérgica (eczema de contacto alérgico)
Embora os três tipos de eczema se pareçam bastante, tratam-se de patologias distintas. Aqui está o nosso guia para conseguires diferenciá-los e compreendê-los melhor.
Dermatite atópica ou eczema atópico
Quem pode ser afetado?
A dermatite atópica afeta principalmente bebés e crianças. Nos países industrializados, o número de casos triplicou nos últimos 30 anos: entre 10 e 30% das crianças são afetadas, dependendo do país. Na maioria dos casos, o eczema atópico desaparece por volta dos sete ou oito anos de idade.
O problema de pele pode, no entanto, continuar durante a adolescência. Estima-se que 10 a 20% dos adolescentes em todo o mundo sofrem de dermatite atópica.
Nos países industrializados, cerca de 10% dos adultos sofrem de eczema. Entre estes, alguns têm o problema desde a infância, enquanto outros tiveram períodos de remissão antes de voltarem a ter crises. Por vezes passam vários anos sem qualquer sintoma, e noutros casos a primeira crise surge já na idade adulta.
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Qual é o aspeto do eczema atópico?
O eczema atópico é uma doença crónica e cíclica da pele muito seca. Não é grave nem contagiosa, mas pode impactar significativamente a qualidade de vida. Esta condição manifesta-se em três fases, que podem durar semanas ou meses.
Surgem manchas vermelhas e ásperas no rosto e no corpo, acompanhadas de irritação e comichão. Nessas manchas aparecem pequenas bolhas, e a comichão é intensa e difícil de controlar. Estes sintomas desaparecem geralmente com um tratamento prescrito pelo médico, na maioria das vezes corticóides tópicos.
A pele regressa ao seu estado “normal”, ou seja, muito seca, a repuxar e sempre desconfortável. Pode também haver descamação.
Algumas semanas ou meses depois, surge uma nova crise, sem uma causa específica. O ciclo recomeça.
Durante as crises de eczema, a comichão pode afetar fortemente a qualidade de vida, causando irritabilidade, problemas de sono, cansaço, preocupação com a aparência, e por vezes dificuldades psicológicas e de relacionamento.
O que causa eczema atópico?
O eczema atópico pode ter duas causas principais: uma predisposição genética e fatores epigenéticos ligados ao ambiente e ao estilo de vida.
Um problema hereditário
Esta condição de pele é, muitas vezes, hereditária. Na sua origem está uma pele muito seca, permeável e porosa. Por ter falta de lípidos, não funciona como uma barreira eficaz. Mais permeável, permite a entrada de alergénios e irritantes do ambiente, absorvendo tudo como uma esponja.
Fatores desencadeantes e agravantes
Diversos fatores podem provocar crises de eczema: frio, vento, calor, transpiração, poluição, pólen, cosméticos inadequados, detergentes, medicamentos… Cada pessoa reage de forma diferente.
O sistema digestivo e o microbioma intestinal desempenham também um papel importante, pelo que a alimentação pode influenciar estas crises. O stress e as emoções são outros fatores que podem desencadear o eczema. Cada crise é resultado de um sistema imunológico desregulado, que tende a reagir cada vez mais com o passar do tempo.
Como tratar o eczema atópico?
É fundamental tratar o eczema atópico o mais rapidamente possível, seja em crianças ou adultos. Os dermatologistas dispõem de tratamentos eficazes para melhorar o conforto diário. A prioridade a curto prazo é acalmar a comichão, enquanto a longo prazo o objetivo é espaçar as recidivas.
Cuidado emoliente para hidratar a pele e fornecer lípidos
Esta é a forma mais simples e eficaz de prevenir crises. Se tens pele atópica, é importante aplicar um hidratante formulado especificamente para a tua pele, em todo o corpo, duas vezes por dia. A aplicação diária alivia a comichão, hidrata a pele, fornece os lípidos que estão em falta, reestrutura a barreira cutânea e ajuda a espaçar as recidivas.
Utiliza também um produto de higiene suave que não irrite a pele, como um óleo de banho. Presta atenção aos produtos cosméticos que aplicas, pois podem desencadear reações na pele sensível.
Cremes médicos locais por prescrição
Quando surgem erupções, além do creme hidratante aplicado diariamente em todo o corpo, pode ser necessário usar um creme à base de cortisona nos locais onde aparecem manchas vermelhas e comichão. Depois de cada aplicação, as manchas diminuem e a pele fica com melhor aspeto.
Ao reduzir gradualmente a quantidade utilizada, evitas o efeito rebound. De forma geral, os efeitos secundários do uso de corticóides tópicos são muito raros, desde que sigas corretamente a prescrição do médico.
Bons hábitos
Toma banhos curtos com água morna ou fria, em dias alternados durante uma crise.
Lava as mãos em água fria ou morna, nunca quente, usando o mesmo produto do banho.
Escolhe detergentes e tecidos suaves que não irritem a pele.
Areja a casa todos os dias, exceto na época do pólen.
Faz atividades relaxantes que ajudem a reduzir o stress e a melhorar o humor. Procura apoio em associações especializadas para manter uma atitude positiva – a melhor forma de manter o eczema sob controlo!
Também deves estar atento à dermatite de contacto, que pode ser irritativa ou, mais raramente, alérgica.
Dermatite de contacto irritativa
Quem pode ser afetado?
A dermatite de contacto irritativa representa cerca de 80% de todos os eczemas de contacto (irritativos e alérgicos). É difícil saber exatamente quantas pessoas sofrem desta condição, pois muitas nunca consultam um médico. Apesar de muitas vezes não ser detetada, estima-se que entre 2 a 10% da população seja afetada, distribuída igualmente entre mulheres e homens.
A dermatite de contacto irritativa é responsável por 95% das doenças cutâneas relacionadas com agentes externos. Algumas pessoas podem apresentar simultaneamente eczema atópico e de contacto.
Qual é o aspeto da dermatite de contacto irritativa?
Nesta condição, a pele reage após entrar em contacto com um agente irritativo específico, como um produto cosmético, produto químico, metal, medicamento ou substância natural. Por isso se chama dermatite de contacto irritativa: a reação está ligada ao toque ou fricção com o irritante durante determinado tempo. Não é uma alergia e não é contagiosa.
Muitas vezes, este tipo de eczema afeta o rosto e as mãos. Os sintomas variam conforme a sensibilidade de cada pessoa e podem incluir pele seca, vermelhidão, inchaço, manchas vermelhas, bolhas cheias de líquido, ardor e prurido intenso. Quando se torna crónico, a pele pode espessar, descamar e desenvolver pequenas gretas.
Se a área afetada for visível, a dermatite pode causar constrangimento ou mesmo insegurança em quem a apresenta.
O que causa dermatite de contacto irritativa?
A reação do corpo a um irritante está frequentemente relacionada com uma barreira cutânea fragilizada. Esta reação ocorre poucas horas após a exposição ao agente irritativo e é restrita à área exata onde o contacto aconteceu.
Aqui estão alguns exemplos de irritantes que podem desencadear eczema de contacto irritativo. Lembra-te de que a reação será mais intensa se houver fatores agravantes, como atrito, fricção, frio ou calor.
Irritantes comuns:
Produtos químicos: detergentes, desinfetantes, produtos antissépticos, ácidos, bases, solventes orgânicos.
Agrotóxicos.
Algumas plantas.
Sais de metal.
Um dos tipos mais conhecidos de dermatite de contacto irritativa é a "dermatite doméstica", que surge devido à exposição a produtos de limpeza e detergentes. Pode ocorrer tanto em ambiente doméstico como profissional, principalmente em funções de cuidado e saúde. Alguns empregos apresentam um risco mais elevado de dermatite de contacto irritativa:
Profissionais de manutenção: exposição a produtos químicos, detergentes e desinfetantes.
Profissionais de construção.
Profissionais de saúde: lavagem frequente das mãos e contacto com produtos químicos, desinfetantes e produtos antissépticos.
Fabrico de carros.
Profissionais de agricultura e jardinagem: exposição a agrotóxicos.
Esses ambientes e profissões apresentam um risco maior de exposição contínua a irritantes, o que pode agravar a condição.
Como tratar a dermatite de contacto irritativa?
Se tiver dermatite de contacto irritativa, é importante agir rapidamente. Comece por limpar a zona afectada com um produto de higiene suave o mais rapidamente possível. Se a reacção for forte ou persistente, consulta um médico para orientação.
Bons hábitos para controlar e prevenir a dermatite de contacto irritativa:
Aplique um creme emoliente: Um bom creme emoliente ajuda a restaurar a função de barreira da pele, prevenindo mais irritações e hidratação adicional.
Utilize luvas de protecção: Quando entra em contacto com produtos irritantes, usa luvas que não sejam feitas de látex ou borracha, para evitar o agravamento da irritação.
Verifique a composição dos produtos: Lê atentamente a composição dos produtos que utilizas, como detergentes e cosméticos, para evitar ingredientes que possam desencadear reacções na tua pele.
Evita a exposição à substância identificada: Se souberes qual é o irritante que causa a dermatite, tenta evitar ao máximo o contacto com essa substância, especialmente em ambientes profissionais ou domésticos.
Ao seguir estas recomendações, a dermatite de contacto irritativa pode ser controlada de forma mais eficaz e o risco de novos surtos será minimizado.
Dermatite de contacto alérgica
Quem pode ser afetado?
A dermatite de contacto alérgica é uma condição menos comum do que a dermatite de contacto irritativa, representando cerca de 20% dos casos de eczema de contacto.
Como saber se tens dermatite de contacto alérgica?
Os sintomas da dermatite de contacto alérgica são semelhantes aos da dermatite de contacto irritativa: vermelhidão, inchaço, manchas vermelhas, sensação de ardor e prurido intenso. A pele pode ficar mais espessa e até desenvolver pequenas gretas. No entanto, a principal diferença é que os sintomas só aparecem após a exposição repetida a um alergénio específico.
A dermatite de contacto alérgica pode não causar reacções durante muitos anos de exposição ao alergénio. Quando uma pessoa se sensibiliza, pode ocorrer uma crise de eczema, muitas vezes com sintomas que surgem até 96 horas após o contacto com o alergénio. Em alguns casos, os sintomas podem surgir em áreas do corpo diferentes daquela em que houve exposição inicial.
Além disso, a qualidade de vida pode ser severamente afetada, não apenas pelos sintomas físicos, como comichão e desconforto, mas também pela percepção dos outros, caso a reação de pele seja visível.
O que causa dermatite de contacto alérgica?
Os dermatologistas afirmam que a dermatite irritativa pode ser a porta de entrada para a forma alérgica. Quando o eczema irritativo se repete, o corpo pode sensibilizar-se a um alergénio específico, iniciando uma reação imunológica, mesmo com uma exposição mínima.
A localização do eczema pode dar pistas sobre o que está a causar a reação alérgica:
Couro cabeludo: Shampoos, produtos de coloração ou produtos de styling.
Rosto: Cosméticos, produtos de higiene, tratamentos tópicos, protetor solar, perfumes.
Pálpebras: Maquilhagem, gotas para os olhos, vernizes.
Lábios: Batom, protetor labial, pasta de dentes, instrumentos musicais.
Orelhas/pescoço: Joias, perfumes.
Corpo: Roupa interior, produtos de higiene.
Pernas e pés: Cola para sapatos, meias.
Mãos: Uma vasta lista de produtos com os quais entramos em contacto ao longo do dia.
Além disso, alguns empregos apresentam maior risco para o desenvolvimento de dermatite de contacto alérgica, como:
Profissionais de cabeleireiro e salão de beleza (produtos de coloração, vernizes, perfumes)
Trabalhadores da construção (cimento, cola, tinta, verniz)
Profissionais de saúde (lavagem frequente das mãos, produtos químicos, luvas de látex)
Padeiros (farinha, especiarias, aromas)
Trabalhadores da indústria automóvel (tintas, óleos, solventes)
Agricultores e jardineiros (pesticidas, fertilizantes, agrotóxicos)
Como tratar a dermatite de contacto alérgica?
Se achas que tens dermatite de contacto alérgica, é essencial consultar um médico. Este pode prescrever um tratamento tópico adequado, como corticosteróides. Após o tratamento inicial, pode ser necessário consultar um alergologista ou dermatologista especializado em alergias, para realizar testes e identificar o alergénio responsável pela reacção. O tratamento adequado ajudará a evitar novos surtos, ao identificar e evitar o contacto com o alergénio no futuro.